Cuidado! Ser competente pode te prejudicar
“Quando um homem está envolvido em si mesmo, ele se torna um pacote muito pequeno.” (John Ruskin)
Em um momento onde falamos exaustivamente de um novo conceito de gestão, velhos hábitos ainda são recorrentes nas organizações. Alguns gestores ou superiores imediatos que identificam pessoas extremamente competentes em suas equipes e passam a visualizá-los como possíveis concorrentes, profissionais que são capazes de superá-los em uma série de requisitos. Parece ser uma atitude pouco compreensível, já que trabalhar com os melhores deveria ser um incentivador para que melhoremos ainda mais, porém, segundo especialistas, esse tipo de atitude faz parte da natureza humana.
Um artigo de 2013 da portuguesa Carla Lima intitulado “É bom ser competente?” traz esse questionamento e um série de implicações sobre ser competente no que fazemos. Pessoas inovadoras são as mais prejudicadas. Quem procura fazer bem aquilo a que se propõe e ainda por cima trazendo inovação e valor aos resultados, em 80% dos casos, sempre irá ouvir de alguém alguma crítica (destrutiva, em sua maioria). Isso muitas vezes afeta o nosso psicológico e derruba ladeira abaixo nossa necessidade diária de motivação. Inveja e insegurança sobre sua capacidade são os principais motivadores dos gestores que tentam, a todo custo, abafar o talento dos bons profissionais. Porém, isso pode ser trabalhado de forma que o bom profissional não se afete com essas intervenções devido à seu talento.
Em seu livro, As 48 Leis do Poder, Robert Greene e Jost Elffers colocaram como lei número 1 saber lidar com esse tipo de situação para que o poder seja alcançado. No livro, a Lei 1 diz o seguinte:
Não ofusque o brilho do Mestre: Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam confortavelmente superiores. Querendo agradar ou impressionar, não exagere exibindo seus próprios talentos ou poderá conseguir o contrário e inspirar medo e insegurança. Faça com que seus mestres pareçam mais brilhantes do que são na realidade e você alcançará o ápice do poder.
Obviamente, todos nós buscamos reconhecimento por nossos talentos. Isso acontece desde de criança, quando tentávamos desesperadamente chamar a atenção dos nossos pais para que nos visse nadar (mesmo que de forma desengonçada) uma distância de 2m na piscina. Nós sabemos que durante a nossa vida profissional iremos lidar com 2 tipos de chefes: aquele que confia e procura facilitar o nosso trabalho, sabendo que o crescimento dele depende da competência de nossas ações e aquele que quer que sejamos competentes, mas não mais que ele, pois é incapaz de melhorar continuamente e acredita ser mais fácil, simplesmente, abafar nossos talentos. Imagina se vaza para o superior imediato do seu chefe que o grande responsável pelas boas ações da área são produtos de nossas ideias? Tem noção da gravidade disso para um gestor inseguro?
Tenho conhecimento de ótimos profissionais que não conseguiram prosperar em algumas empresas exatamente por insistir em mostrar suas habilidades a todo custo, indo de encontro à insegurança de seus gestores. Estes gestores fizeram questão de aniquilá-los, impondo tarefas inexequíveis, se queixando a superiores imediatos e não fornecendo nenhum tipo de feedback, afetando assim sua capacidade de motivação. É preciso saber lidar com esse tipo de gestor, saber expor suas habilidades sem se mostrar arrogante e principalmente, identificar o melhor caminho para que os gestores mais seniores da sua empresa enxerguem suas habilidades, porém sem transparecer que você está “by-passando” seu chefe. Entrar em choque será, inevitavelmente, prejudicial a você.
O importante é não deixar que esse tipo de situação tire o brilho dos seus olhos, afetando sua capacidade de produção e vontade de crescer. Ser competente é extremamente importante, mas é preciso saber ser, para que isso não seja usado contra você futuramente.
Lembre-se:
"A censura é o imposto da inveja sobre o mérito". (Laurence Stern)